sexta-feira, 7 de junho de 2013

Doutorado sanduíche: é bom saber

Continuando a falar sobre burocracias e dúvidas que envolvem a saída para o doc sanduíche, destaco alguns itens que acho que geram dor de cabeça ou curiosidade antes de partirmos. Muitas outras dúvidas estão respondidas no site da Capes, na seção de Perguntas frequentes, para a qual há link no final do post.

O orientador
- O papel do orientador estrangeiro no doutorado sanduíche varia muito. A maioria dos relatos dos conhecidos que fizeram sanduíche é de que não recebiam muita atenção dos professores - em casos mais extremos, há apenas um encontro inicial e nada mais. Para alguns, é um semestre totalmente autônomo, para outros, o contato continua com o orientador brasileiro. *Sempre é bom não sumir do verdadeiro orientador, dar satisfação de vez em quando não faz mal nenhum*. Às vezes, o professor estrangeiro insere o doutorando em seu grupo de pesquisa, realizando ou não orientações individuais. Em outros casos, realiza reuniões periódicas com o estudante, inclusive pedindo "tarefas" para o aluno. Aqui, como a maioria dos brasileiros está em áreas que funcionam por meio de laboratório, os doutorandos passam a fazer parte da equipe, na maioria das vezes, colaborando na pesquisa do orientador, que pode ou não servir para a tese do doutorando. No meu caso, não tenho encontros regulares com meu orientador, mas nos reunimos várias vezes desde que estou aqui, com conversas muito produtivas sobre a minha tese, mesmo que sejam durante o almoço. Como ele nunca recebeu um aluno nessa mesma situação (são exceção os professores estrangeiros que têm experiência em doutorado sanduíche), ele não sabe o que espero dele, e sempre me pergunta "como eu posso te ajudar?". Eu não sei o que responder para ele, também não sei exatamente como ele pode me ajudar, mas o fato é que nossas conversas sobre a minha pesquisa sempre levantam questões bem importantes e me ajudam muito. Além disso, aproveito para esclarecer várias curiosidades, especialmente sobre a pós-graduação nos Estados Unidos. *No meu próximo post, sobre a minha pesquisa, vou tentar falar um pouco sobre a pesquisa em Comunicação na pós-graduação aqui.

Questões financeiras
- No final de 2012, foi divulgada uma portaria em que a Capes autoriza o pagamento de um valor complementar para os estudantes que irão para cidades consideradas de alto custo de vida. O complemento é de 400 dólares nos EUA ou 400 euros para países europeus (e outros valores conforme a moeda do país). Entre as cidades que estão nessa lista, Nova York, Los Angeles, Londres, Paris, várias cidades da Noruega e da Suécia e outras mais. Veja a lista completa, e a tabela geral de benefícios, aqui. Essa complementação é justíssima, porque é claro que existem cidades muito mais caras para viver. Essa mesma portaria aumentou o valor do auxílio-instalação, por exemplo, e fui pega de surpresa ao receber o montante, já que no site da Capes o valor divulgado era a metade. Que ruim....

- Antigamente - não se até quando, mas isso mudou há uns aninhos -, o doutorando que permanecia mais de seis meses no sanduíche poderia receber um auxílio-dependente (cônjuge, filho). Hoje isso não existe mais, apenas para quem faz doutorado pleno no exterior.

- A Capes ou o CNPq não cobrem despesas com visto. Se você pretende ir para os Estados Unidos, reserve US$ 360 para as taxas do visto - US$ 160 para a taxa padrão, que todos os brasileiros pagam para fazer o visto, e US$ 200 para a taxa SEVIS, que é específica para vistos de estudante. Fora isso, se você não mora em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou Recife (como falei aqui, em 2014 Porto Alegre deverá contar com um consulado. Belo Horizonte também deve ganhar um consulado em breve), também precisará arcar com os custos de viagem a esses lugares, considerando que é preciso passar ao menos uma noite na cidade, pois o visto é feito em dois dias, um para a triagem no CASV (Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto) e outro para a entrevista no Consulado. Não é possível marcar os dois no mesmo dia, mas sim em dias consecutivos ou com dias de intervalo entre um e outro, se for melhor. Mas dá para contar com o auxílio-instalação para mais ou menos cobrir esse valor, pois não é preciso gastar US$ 1.300 com a chegada, a menos que você mobilie por completo um apartamento ou conte com esse dinheiro para comprar um carro (mas o valor do carro volta depois, vendendo-o antes de ir embora). Mas claro, isso depende de como cada um vai distribuir o dinheiro, eu considero que usei esse valor para comprar um notebook e um smartphone logo que cheguei.

Viagens
- Quase todo mundo aproveita para viajar durante o período fora, claro. Na teoria, é preciso comunicar a Capes antes de qualquer viagem, mas na prática não funciona assim, não para viagens nacionais. Quando envolve viagens internacionais, é melhor não arriscar. Há uma área no sistema da Capes para fazer comunicações gerais, incluindo essas. O escritório internacional da Texas A&M informou que caso fôssemos sair dos EUA durante o período do sanduíche, deveríamos passar na unidade para eles darem o OK no DS. Isso sim seria indispensável, pois todo cuidado é pouco em relação ao visto americano... Perguntei se isso seria necessário no meu caso, que vou ao México antes de voltar ao Brasil, mas a responsável pelos alunos estrangeiros informou que como meu período já terá acabado e não retorno para os Estados Unidos, não há necessidade desse registro. No sistema da Capes, preenchi um formulário comunicando que meu retorno será pelo México e só. 

- Vale destacar que não é tão barato viajar dentro dos Estados Unidos, não se consegue preços de passagens áereas como os da Europa (não sei de experiência própria, mas de fonte segura, que na Europa viajar de avião pode ser bem em conta). Por outro lado, para quem tem carro (e de preferência, companhia), sai barato ir para locais não tão distantes aqui. Quem vai ficar seis meses ou mais nos EUA, vale considerar a hipótese de comprar um carro. Para nós, parece algo tão complicado, ainda mais para fazer em outro país, mas não é, nem caro. Também se consegue passagens de ônibus por preços baixos (Megabus, Greyhound Express...), mas as linhas são mais restritas que no Brasil.

Para quem vem para os EUA
- Para quem está vindo para os Estados Unidos, sugiro que não se preocupe em comprar coisas para trazer, como roupas de inverno, produtos de higiene e beleza, produtos eletrônicos, etc. Mesmo pagando em dólar, o custo disso costuma ser menor aqui. Claro, é preciso dar uma procurada, então é bom vir com o básico para não ter que sair comprando assim que chegar, já que às vezes demora um tempinho até se descobrir os melhores lugares para comprar. No meu caso, recebi US$ 200 da agência do seguro-viagem/saúde para compras emergenciais por minha bagagem ter extraviado (chegou dois dias depois), e acabei fazendo compras na primeira loja que encontrei porque não podia ficar fazendo "pesquisa de preço". Hoje, conhecendo a cidade, teria gasto esse dinheiro bem melhor...

Resumindo... Os 10 passos do processo de Doutorado Sanduíche (CAPES)
1) Ser aceito por um professor no exterior;
2) Ter a qualificação aprovada (se isso é requisito do seu programa, não é exigência da Capes); 
3) Ser aprovada pelo programa onde realiza o doutorado; 
4) Incluir os documentos (1ª leva de documentos - em amarelo) no sistema da Capes; 
5) Aguardar que a área responsável na universidade homologue a candidatura junto à Capes; 
6) Receber a carta de concessão da Capes; 
7) Estados Unidos - fazer o pedido do DS2019 para a universidade estrangeira para onde vai; 
8) Estados Unidos - com o DS em mãos, encaminhar o visto americano J1 (preencher o formulário DS160, agendar CASV e Consulado; comparecer a esses lugares; aguardar o recebimento do passaporte com o visto, que agora está sendo enviado pelos Correios, sem os problemas que relatei ter passado).
9) Incluir o restante dos documentos no sistema da Capes, entre eles, o visto (2ª leva de documentos - em rosa);
10) Aguardar a implementação da bolsa (enviados todos os documentos, é possível viajar no dia seguinte, mas o pagamento só virá após a implementação, mas se você enviou todos os documentos necessários antes de viajar, receberá todos os benefícios).
Ilustração da Capes sobre os passos do processo (aqui)

... 

O site da Capes oferece uma seção de Perguntas Frequentes com vários esclarecimentos, mas que mesmo assim não chega a ser completa. Vale a visita (aqui).

Posts em que falei sobre o "caminho até o doutorado sanduíche" (só clicar) 
- O longo caminho até o doutorado sanduíche (o mais acessado do blog!) 

- O mundo como opção 

- Uma "blogueira" sofrendo de curiosidade

Posts em que falei sobre a "novela do visto americano" (só clicar) 
-  A novela do visto

- Porto Alegre no mapa BR-EUA



7 comentários:

  1. Valeu mais uma vez por todas as dicas! Com certeza todas elas estão me ajudando muito, afinal, li teu blog desde o primeiro texto! abraço!

    ResponderExcluir
  2. Há dias abro o Blog em busca de nova leitura, e sempre me deparo com a publicação do dia 7 de junho.... Vamos lá, Jornalista! Garanto que não sou a única esperando novo post!!!

    ResponderExcluir
  3. Acho que a CAPES deveria usar as suas informações do passo a passo, hehe as coisas estão bem mais claras pra mim agora... obrigada :-)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom poder ajudar! Sofri um bocado pela falta de informação e, se conseguir ajudar um pouco os "colegas', fico feliz :)

      Excluir