terça-feira, 18 de junho de 2013

Tese à vista - Minha pesquisa

Meus caros, desculpem a ausência. Estou uma semana atrasada em relação ao meu cronograma... Estava sem inspiração. Acho que é porque agora eu só penso em ir embora... Sexta que vem é o dia!

O tema do post de hoje é minha pesquisa de tese! Então, sobre o que é minha tese?

Apesar de graduada em jornalismo, minhas pesquisas (falo no plural para incluir o TCC, a dissertação, a tese e os grupos de pesquisa dos quais participo, na PUC e na UFRGS, e de que participei, na UFSM) são sobre Comunicação. Mais especificamente, sobre telenovela (com exceção apenas do projeto da PUC, coordenado pela minha orientadora).

Na tese, minha pesquisa é sobre o papel da classe social na recepção de novela por mulheres. Investigo em que medida fazer parte de classes sociais diferentes - no caso, da classe média e da classe "batalhadora" (classe C em ascensão ou "nova classe média") - acarreta em um consumo diferente da telenovela e da mídia.

Uma das questões centrais do meu trabalho diz respeito ao momento econômico do Brasil, que permitiu que muitas pessoas ascendessem socialmente. Porém, não chamo essa "nova classe" de  classe média, porque de acordo com os autores que estudo essa ascensão não lançou as pessoas à classe média, pois classe significa mais do que renda, significa um capital cultural, questões de educação, lazer, enfim, aspectos que essa "nova classe" não compartilha com a estabelecida classe média. Um dos autores que uso chama esse classe de batalhadora, pois o que caracteriza sua ascensão é um acúmulo de trabalho e muito esforço. São, na verdade, a classe trabalhadora. Também importa o fato das minhas pesquisadas serem mulheres. Assim, vou estudar questões de identidade feminina, mas sempre atrelada com a classe social e a mídia.

Resumindo, minha área de pesquisa se preocupa em entender o papel da mídia na sociedade, investigando o que as pessoas fazem com o que consomem. No meu caso, estou estudando como isso que "as pessoas fazem com o que consomem" varia (ou não) de acordo com a classe da qual essas pessoas (mulheres) fazem parte. É um trabalho que eu adoro.

Para a minha qualificação, que defendi em agosto do ano passado, fiz algumas entrevistas com mulheres de classe batalhadora e de classe média. Essas entrevistas foram muito úteis e pretendo continuar a pesquisa com essas mulheres. Além dessas, incluirei outras mulheres, mas minha amostra não é grande, pois é um trabalho bastante qualitativo. Quando eu voltar (começando praticamente no dia seguinte à minha chegada), o principal é desenvolver a pesquisa de campo, ou seja, fazer entrevistas, assistir novela com essas mulheres e etc.

No meu período aqui, foquei nas questões de metodologia e em leituras sobre classe. Assim, voltando a Porto Alegre tenho os subsídios para fazer a pesquisa empírica. Na verdade, eu poderia ter feito a mesma coisa no Brasil, mas estando aqui contei com as orientações de outro professor (outra visão, outras experiências) e pude aproveitar para me abastecer de bibliografia que seria de difícil acesso no Brasil - digitalizei livros que podem me servir, comprei outros, baixei muitos artigos.

Sobre as orientações do meu professor aqui, especialmente do último mês, têm sido muito útil. Ele pesquisa questões bem parecidas e tem bastante experiência de pesquisa empírica. Durante algumas conversas nossas, me animava tanto que pensava "essa orientação valeu a minha vinda".

Agora, terei muito trabalho quando voltar, porque a essência da minha tese é o empírico, ou seja, o que essas mulheres me dirão e o que farei com isso. Todas as leituras, além de terem um lugar específico na tese, vão ajudar a coletar e a interpretar os meus dados, que são nada mais nada menos do que tudo que resultar das conversas e do convívio com as minhas pesquisadas.

Pesquisa em Comunicação nos EUA
Comentei no último post que tentaria falar algo sobre a pesquisa na pós-graduação em Comunicação aqui. Bem, o que meu orientador diz é que é muito difícil conseguir verba para pesquisa, e que, basicamente por isso, é pouco comum haver grupos de pesquisa na Comunicação. Ou seja, não é aquela coisa Primeiro Mundo que imaginamos.

No caso do Brasil, para quem não está ambientado, as verbas também não são comuns, mas existem (claro, nos EUA também existem). Com alguma frequência, abrem editais, específicos ou gerais, para financiar pesquisas. Um exemplo é o projeto de pesquisa da minha orientadora na PUC, sobre mídia e mulheres (falando genericamente), que recebeu uma verba de R$ 50 mil de um edital do CNPq (agência de fomento à pesquisa do governo brasileiro) para realizar uma pesquisa por dois anos (acabou agora). Além disso, os pesquisadores ganham uma bolsa mensal, que complementa o salário, para apoiar a pesquisa (basicamente, quanto mais produtivo o professor-pesquisador, maior a bolsa, existindo seis categorias de pagamento, que vão de R$ 1.100 a R$ 2.800).

O que conversei com meu orientador aqui sobre a pesquisa em Comunicação no Brasil, especialmente sobre a entrada dela em outros países, é que o problema é que os pesquisadores brasileiros dificilmente publicam em revistas científicas internacionais, especialmente por causa da barreira da língua, mas não só. Acabamos produzindo para nós mesmos, e deixamos de ser consultados, como deveríamos. *Se quiser saber mais sobre este assunto, indico esse texto: http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/02/11/conhecimento-ilhado/

Mas sobre o nível dos doutorandos, não percebi grande diferença em relação ao Brasil. No Brasil, há programas em que os alunos fazem menos pesquisa, especialmente aqueles de universidades particulares, em que a maior parte dos alunos precisa trabalhar para pagar o doutorado e acabam se dedicando menos à pesquisa. Aqui os alunos trabalham na própria universidade, dando aula, e isso não exige tantas horas, então acabam tendo mais tempo para pesquisa. Mas, especialmente nas federais brasileiras, costuma haver essa dedicação à pesquisa, e bastante produção de qualidade, com muita apresentação de trabalho por mestrandos e doutorandos em congressos, assim como publicação de artigos em periódicos. Um nível parecido, ao que me pareceu. Em sala de aula, achei eles bem esforçados, mas o conhecimento acumulado, o nível das discussões, me decepcionaram um pouco. 

Rápidas:
1) O título do The Voice (que acompanhei desde o ínício, em março) já veio para o Texas. Agora falta o título da NBA. No momento, a melhor de 7 está 3 a 3. Quinta é a grande decisão. Na torcida pelo San Antonio Spurs.


Vencedora do The Voice, de Cypress, Texas, a pouco mais de 100 km de College Station (sim, agora sou bairrista com o Texas também! E o que mais gostava no programa era a "conterrânea latina" Shakira).

2) Quinta-feira (20-06) haverá ato em College Station em apoio aos protestos no Brasil. Há 100 pessoas confirmadas na páginas do evento no Facebook, não sei se todas irão, mas também podem aparecer outras... Muitos brasileiros daqui têm uma ideologia política bem diferente da minha (com exceções, felizmente), mas o ato é válido de qualquer forma.

3) Nos jornais brasileiros, a cobertura diz que os jornais do mundo inteiro estão dando destaque às manifestações - ouvi falar exatamente isso no Jornal Nacional hoje (que assisti via TV online na internet). Bom, tenho visto a Espanha dar bastante espaço, especialmente o El País, e os grandes jornais dos EUA não deixam por completo de falar, mas é pouco, para mim, pouquíssimo, dado o tamanho do que está acontecendo. Talvez se eles se importassem mais com futebol e com a Copa das Confederações - que colegas americanos não sabiam direito do que se tratava -, estivessem mais ligados, ou, claro, se fossem menos autocentrados. A questão é que desde ontem deixei a TV ligada na CNN por horas a fio para ver se falariam sobre, e vi apenas um flash de uma repórter em São Paulo, por uns dois minutos, no máximo. Eu acho a TV um termômetro mais importante do que os jornais online porque não diferencia o interesse das pessoas, isto é, se passar na TV, quem estiver assistindo vai ficar sabendo. Na internet, se não ganhar destaque, as pessoas no máximo vão olhar a chamada e se não estiverem interessadas, não vão se informar. Sexta-feira os americanos do meu convívio não sabiam do acontecido até quinta-feira. Sobre esta semana, não sei dizer.

Protesto no Rio de Janeiro, 17-06-13.


3 comentários:

  1. Mas mesmo assim tu vai na manif? (Era assim q os franceses chamavam. Esse povo fazia muita manif)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, não ficou claro né? Vou sim na manif (gostei de manif). Uma das coisas legais dos franceses é fazer manif. Um povo bem mais politizado que o americano.

      Excluir
  2. muito bom. acho que aumenta a importância da sua pesquisa no contexto social em que estamos vivendo hoje, onde há inclusive essa troca de influência, não só da mídia em relação ao público, mas também do público em relação aos produtos midiáticos, como as novelas.. bom, mas não quero ensinar o padre a rezar missa, com certeza você sabe muito mais do assunto do que eu, que to mergulhado no mundo gonzo do Hunter Thompson..euheuehe (as vezes me acho um lunático, mas é legal ver que há outros lunáticos espalhados pelo mundo). abraço!

    ResponderExcluir