quarta-feira, 31 de julho de 2013

Mariachis, tequila, história, arte..: Guadalajara!

Guadalajara é uma cidade muito interessante. A primeira característica que chama a atenção é sua idade: 471 anos, fundada em 1542. Outro aspecto diferente para a gente é estar situada 1.500m acima do nível do mar. Além disso, o estado do qual é capital, Jalisco, é local de origem de duas das mais conhecidas atrações do México: os mariachis e a tequila. E, ainda, é uma grande cidade, com 1,6 milhão de habitantes, e mais de 4 milhões na região metropolitana.


Guadalajara - 7, 8 e 9 de julho (domingo, segunda e terça)

Depois de tranquilas 14 horas de viagem de ônibus (autobuses Futura) - saímos às 20h de Nuevo Laredo e chegamos às 10h em Guadalajara -, pudemos fazer o checkin mais cedo no hotel. Isso foi, na verdade, algo recorrente no México, pois, com exceção do hotel da Cidade do México, liberaram os quartos para a gente bem mais cedo em todos os hotéis.

Hotel Don Quijote
O Charles já chegou arriscando no almoço. Resolveu provar algo como um ensopado de bode, chamado birria, que é um dos práticos típicos de Guadalajara. A carne de bode parece frango, e o ensopado não era muito apimentado. Aproveito para adiantar o que nos foi compartilhado pela guia do nosso tour à Tequila, no dia seguinte. As três mentiras do mexicano: 1) Amanhã eu pago. - Não paga!; 2) Logo eu tô aí - Demora duas horas; 3) Não pica (não é apimentado) - Pica! As duas primeiras poderiam ser as mentiras dos brasileiros. Essa última foi a melhor! Mas na verdade até que dá pra confirar, quando eles dizem que não pica, não pica mesmo. Se eles disserem que pica muito, não se atreva nem a experimentar.
Birria - prato típico de Guadalajara, com carne de bode. Ao lado, tortillas - sempre.
Logo nos deparamos com as duas coisas que mais há na cidade: igrejas e fontes - estas, mais de 400. Mesmo as igrejas menores são muito bonitas, e bem antigas. 
 
Igrejas no centro de Guadalajara
Igrejas no centro de Guadalajara
Igrejas no centro de Guadalajara
A Catedral Metropolitana é enorme. Começou a ser construída em 1558 e foi consagrada em 1616. E como disse o Charles, não há igreja sem fiel no México. Eles são muito religiosos, as igrejas sempre tem bastante gente rezando.

Catedral da Assunção de Maria Santíssima
A cidade estava tão movimentada que não parecia nada um domingo. Nas praças, apresentações de artistas de rua reúniam várias pessoas ao redor. Um clima - e uma temperatura também - muito agradável.

Centro histórico de Guadalajara
Centro histórico de Guadalajara

No centro histórico, fica a primeira sede da Universidade de Guadalajara, fundada em 1792 e estabelecida em 1925. Hoje, funciona no prédio a Biblioteca Octavio Paz.

Primeira sede da Universidade de Guadalajara
Primeira sede da Universidade de Guadalajara
Sede atual da Universidade de Guadalajara
Tomamos um "recorrido" (tour) pela cidade para dar uma olhada geral. Guadalajara é claramente dividida em uma área bem histórica, no centro, onde estávamos, e uma região, não tão longe, moderna, com restaurantes sofisticados, lojas de grife, shoppings, etc.

"Recorrido" por Guadalajara
Fonte "La Minerva"
"A la Gloria de Guadalajara"
Catedral
De volta ao centro, após o tour de uma hora, visitamos a Rotunda dos Ilustres, que homenageia 24 pessoas ilustres de Jalisco. Desses, apenas uma é mulher. Além das estátuas de cada um deles, no centro há urnas com restos cremados dos homenageados. O nosso ilustre preferido é o José Clemente Orozco, um dos pintores mais importantes do México. Junto com Diego Rivera e Siqueiros, forma o trio de muralistas que revolucionou a arte no país, pois criaram obras com enorme valor artístico e político. Quando chegar no terceiro dia, falo dos murais pintados por Orozco no Palácio do Governo e no Hospício Cabañas.

Rotunda dos Ilustres de Jalisco
A janta foi na Praça dos Mariachis. Meu pai que ia curtir uma janta ao som dos clássicos mariachis. Eles costumam cobrar cerca de MX$100 pesos (20 reais) por música, que tocam ao redor da mesa do "contratante". Mas não é preciso pagar para curtir, desde que alguém próximo pague...

Praça dos Mariachis
Arriba!
Mariachis
Até que tava bom, apesar da cara

Antes de nos recolhermos aos nossos aposentos, deixamos reservado o tour do dia seguinte, dia, basicamente, dedicado à tequila. O recorrido, que custou MX$ 250 (R$ 45) por pessoa, iniciou às 9h e se estendeu até as 17h. Mesmo pegando trânsito na estrada rumo à cidade de Tequila, a viagem foi divertida e os passeios, ótimos. *O trânsito nessa estrada é tão comum que causou um atraso de mais de uma hora no jogo de inauguração do estádio do Chivas (que avistamos de longe) contra o Manchester, em 2010. Falando em Chivas, o meu maridinho colorado se animava todo perguntando se os tapatíos (quem nasce em Guadalajara) lembravam da final da Libertadores de 2010... quando o Inter ganhou o título em cima do Chivas....

Nossa primeira parada foi na fábrica de uma das melhores tequilas do mundo, a Tres Mujeres. Não encontramos essa marca aqui, pois ela é artesanal. No local, conhecemos o agave azul, planta de que provém a bebida, e seu processo de produção. Não tinha interesse - até então - por tequila, mas saber como é a produção e ir à cidade que dá nome à bebida, conhecida no mundo todo, foi muito bacana.

Para fins de conhecimento... provamos (e aprovamos) todos os quatro tipos de tequila: blanco, reservado (guardado em barris de carvalho pelo menos dois meses), añejo (guardado em barris de carvalho pelo menos um ano), extra-añejo (guardados em barris de carvalho pelo menos dois anos - a extra-añejo da Tres Mujeres ficam sete anos reservadas). E fica a dica: a primeira característica de uma boa tequila é que ela seja feita de 100% agave, informação que deve estar no rótulo. As grandes fábricas, muitas vezes, misturam outro produto, já que o agave demora muito para poder ser colhido (oito anos) e a produção em larga escala não pode esperar. A de 100% agave não dá ressaca. A marca mais famosa, a Jose Cuervo, tem uma linda loja em Tequila.

Experimentando o trabalho dos jimadores.
Agave antes de ir para os fornos - "piñas"
Barris onde tequilas ficam repousando.
Fábrica da tequila Tres Mujeres
Experimentando...
Indo embora 40% (vol.) mais faceira.
E foi o centro da pequena cidade de Tequila nosso próximo destino. Uma pena termos apenas cerca de uma hora lá, porque há muitas coisas para conhecer, como mercado de artesanato, museu, lojas e etc. Claro, tudo em torno da bebida que leva o nome da cidade.

Celebrando a bandeirinha do Brasil em Tequila.

Centro de Tequila
Loja da Jose Cuervo
Maior garrafa de tequila do mundo
Depois, almoçamos no caminho de volta. Uma linda vista e os mariachis deixaram o almoço ainda melhor. Antes de acabar o relato do recorrido, não posso deixar de dizer que adorei a guia, super engraçada. O Charles tinha gostado também, mas eu imitei tanto uns trejeitos dela, que mudou um pouco de ideia.

Parada para o almoço
Mariachis embalando o almoço.
No nosso terceiro e último dia, além de irmos atrás de uma lavanderia (depois de duas semanas de viagem, achamos que lavar as roupas era uma boa...), fomos ao Palácio do Governo, ao Museu Regional e ao Hospício Cabañas.

A primeira atração do Palácio do Governo fica do lado de fora: um relógio, parado, com a marca de um tiro. O tiro foi dado pelo bando do Pancho Villa em 1915.
Relógio parado por um balaço.
Palácio do Governo
No interior do Palácio, o destaque são os murais de Orozco. Na praça em frente, acontecia um protesto contra o governo.

Palácio do Governo
Mural de Orozco no Palácio do Governo
Protesto em frente ao Palácio
No prédio ao lado, fica o Museu Regional, que trata da história do estado de Jalisco. Em todos os museus do México, é preciso pagar um valor à parte para entrar com máquina fotográfica e poder fazer fotos. Nos demais, pagamos para poder fazer nossos registros, mas esse não nos interessou tanto.
 

Nossa última visita em Guadalajara, foi ao Hospício Cabañas. Até chegar lá, achávamos que o local havia funcinado como hospício - ou seja, lugar onde se interna "loucos". Para nossa felicidade, assim que entramos no "Hospício", estava começando uma visita guiada, e logo o guia, que havia perguntado de onde eram todos os visitantes, esclareceu, especialmente para o jovem casal brasileiro, que diferentemente do significado em português, hospício em espanhol é orfanato. Bá, essa eu não sabia. E olha que vou bem no espanhol - momento autoelogio -, conforme os próprios mexicanos..., sendo que o maior elogio recebido foi de que "não tenho sotaque argentino". Geralmente, acharia muito bom ouvir o contrário, porque o espanhol que eu aprendi é argentino, mas estando no México me esforçava não só para falar espanhol direitinho, mas para falar com "acento" mexicano - que é mais fácil do que o argentino, mas não é o "automático" para mim. Ah, fui bem! E aprendi que hospício é falsa cognata.

Outra consideração que o guia fez direcionada a nós foi de que o local só é Patrimônio Histórico da Humanidade porque o Collor, em uma visita ao local em 1992, sugeriu que o governo fosse atrás desse título. Adoramos o guia, que além de saber tudo e explicar muito bem sobre os murais, era muito inteligente e atualizado, sabia que o Collar não era bem quisto no Brasil e que estava de volta à vida política (que contradição essas duas últimas frases). Ah, e ainda era engraçadinho (ou tentava). Sempre que ele fazia uma piadinha dizia: "Ríanse, es chiste (piada) de calidad". A gente ria pra não perder o guia. Quem convive com a gente vai ouvir a frase uma hora dessas, porque incluímos no nosso repertório.

Em frente ao Hospício. Esse escapou...
Hospício Cabañas
Hospício Cabañas
Sobre os murais de Orozco, teríamos achado bonito, mas não espetacular, sem a visita guiada. Com ela, pudemos entender os significados por trás das pinturas e perceber o quanto de perspectiva tinham - é considerado um dos maiores exemplos de uso de perspectiva por um artista. O guia nos levava de um lado a outro para nos mostrar como o artista empregou bem esse recurso. Os homens, cavalos e etc "mudavam de posição", e muito, enquanto andávamos. Aplicamos a técnica de reconhecimento nos murais na Cidade do México.
Mural de Orozco
Guia engraçadinho
Mural de Orozco
Ainda demos uma passadinha no Mercado de Artesanato, mas tínhamos que buscar a roupa na lavanderia e não pudemos aproveitar muito. Depois, era pegar as malas e pé na estrada.

Próxima parada: Acapulllco!

*Deu pra notar que adorei Guadalajara? Adorei, super recomendo!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Do outro lado do Rio Grande, Nuevo Laredo

Depois do 4 de julho, era hora de dar adeus aos Estados Unidos. Quase seis meses depois, deixei o Texas para trás. Foi muito bom estar lá, mas não senti nenhum pouco em ir embora... Estava ansiosa em conhecer o México, e depois, em voltar para o Brasil. Nosso próximo destino era Nuevo Laredo, a fronteira mais movimentada entre México e EUA e uma das regiões mais violentas do mundo (leia aqui).

Travessia EUA-México
Ainda do lado americano
Bienvenido a México!
A passagem pela fronteira foi tranquila. Vindos de San Antonio, fizemos uma parada em Laredo, ainda do lado texano, e seguimos para a cidade vizinha. Na fronteira, eles param todos os ônibus, mas a revista é por amostra. Perguntaram se alguém se voluntariava para ter a bagagem revistada, e um homem se ofereceu. Ele desceu e ainda passou por um tipo de sorteio, que diria que se ele precisaria mostrar seus pertences ou não. Ele voltou sorridente para seu lugar dois minutos depois, já que não precisaria passar pela revista.

Logo, entrou um policial com um cachorro, a Cusca, que cheirava as mochilas. Já pudemos comprovar que os mexicanos são animados, pois eles riam de todo o processo. A Cusca foi embora. Em seguida, entrou uma fiscal olhando os passaportes, para ver se havia estrangeiros. Um certo casal brasileiro, então, precisou descer e passar no escritório da imigração para fazer um registro de entrada. Com nosso visto americano, pudemos entrar tranquilamente (como eu sabia que meu visto, de certa forma, estava vencido, não estava tão tranquila assim, mas foi tudo bem. Esse tal visto volta à cena na volta ao Brasil, aguardem!) Além de nós, acho que só uma outra mulher não era mexicana, mas também não parecia americana, pelo espanhol.

Com a permissão para ingressar no México
O famoso Rio Bravo, para o mexicanos, ou Rio Grande (em espanhol mesmo), para os americanos, local em que tantos já perderam a vida tentando cruzar para os Estados Unidos, parece inofensivo - nem bravo, nem grande. Nós, fizemos o caminho contrário, e cruzamos para o México.

 
Na entrada no México, fomos informados de que teríamos que pagar 295 pesos mexicanos na saída do país, e já tínhamos deixado o dinheiro reservadinho. Mas, como fomos embora do país de avião, não foi preciso pagar, pois o valor é incluído nas passagens aéreas (nas taxas do aeroporto).

E quanto é MX$ 295? Importante saber daqui por diante... Bem, nas casas de câmbio, a cotação era 11,50, 12,00, ou seja, com US$1, comprávamos MX$ 12. O valor de conversão do banco (Citibank) cobrada nas compras com cartão era de 12,50. Mas, para facilitar, fazíamos os cálculos como se fosse 10,00. Assim, MX$ 295 seriam 29 dólares, mas na verdade é menos, 23 dólares. Para saber o valor em reais, fazíamos o cálculo como se o dólar estive 2 reais, também para facilitar, mas o dólar estava uns 2,30. Mas, resumindo, se fizéssemos o dólar valendo 10 pesos e 2 reais, no final o valor dava mais ou menos certo. Os tais MX$ 295 são R$ 55. Nunca convertíamos direto pesos para reais, principalmente porque o dinheiro que estávamos usando lá era o que sobrou da minha bolsa, recebida em dólares, via conta americana. Mas, a título de informação, com R$ 1 se compra um pouco mais de MX$ 5, ou, cada peso mexicano custa um poquinho menos que 20 centavos de real.

Cédulas homenageando dois símbolos mexicanos: Frida e Diego, que voltam à cena no post da Cidade do México.
Nuevo Laredo - 5 e 6 de julho (sexta-feira e sábado)

O que mais nos chamou atenção na cidade foi o número de policiais e seu armamento pesado. Questionamos várias pessoas por que disso e o que achavam. Nos explicaram que era a polícia do Exército mexicano que estava protegendo a cidade, pois os policiais civis estavam todos corrompidos pelos "malos", especialmente os traficantes, e foram todos mandados embora. Além disso, o policiamento estava reforçado porque no domingo haveria eleições na cidade. Esse também era o motivo para o site do sistema de transporte, por exemplo, não estar disponível - já que o prefeito atual estava tentando se reeleger e esse tipo de servio seria propaganda a ele.

Forte policiamento na cidade
Não parece, mas a população da cidade é de 375 mil pessoas. Nuevo Laredo foi fundada em 1848 - depois que o Texas passou a integrar os Estados Unidos -, por um grupo de 17 famílias que haviam ficado do lado americano e que não queriam deixar de viver no México. Vindas de Laredo, criaram Nuevo Laredo.

A cidade não tinha propriamente pontos turísticos, simplesmente passeamos por lá para conhecer e ver um pouco como é a vida na fronteira. Também provamos a legítima comida mexicana, que teve bons e não tão bons momentos. Já saí da primeira cidade meio enjoada de tortillas (é como uma massinha de panqueca), pois toda a refeição tem, seja como base para os tacos, seja como acompanhamento, fazendo tipo o papel do pão para nós. Mas o café da manhã, comprado numa padaria e tomado na praça, estava ótimo, com pães e doces gostosos e baratos.

Nuevo Laredo
México!
Símbolo do México: águia comendo uma serpente



Rio Bravo e, ao fundo, EUA
Rio Bravo
Em Nuevo Laredo, já percebemos a fama de cantores como Roberto Carlos, Michel Teló e Gusttavo Lima. Numa loja de acessórios para celular, inclusive, o vendedor fazia questão de colocar o som alto para compartilhar a playlist de cantores brasileiros. Na versão da esposa dele, o refrão do Teló ficou "moça, moça, assim você me mata"... Muito diferente do desinteresse dos americanos.

Não ficamos para o dia das eleições. Achávamos que iríamos acompanhar o clima de festa da democracia em Guadalajara, destino em que passaríamos o domingo, mas não. Eleições só no estado de Tamaulipas (onde fica Nuevo Laredo). Em Jalisco (estado do qual Guadalajara é capital), nada.

No próximo post, então, conto das nossas aventuras na terra da tequila! !Hasta!