Como anunciei no post anterior, falo hoje sobre "o Brasil nos EUA". Bem, os americanos não estão nem aí para o Brasil. Fim. Tá, vamos ser um pouco mais detalhistas.
Começando pela mídia
No domingo do incêndio na Kiss, falaram o dia inteiro sobre o ocorrido em Santa Maria nos canais jornalísticos, em flashs de alguns minutos. Em notícias na internet, há muitos detalhes sobre a tragédia e muitos comentários dos leitores. O que mais comentam é da falta de regulamentação em países como o Brasil, mas em geral os comentários não tinham um tom pejorativo em relação ao país e ao fato, e sim demonstravam perplexidade. Na segunda-feira, o pessoal do departamento comentou comigo do fato - mas não imaginavam que fosse algo tão próximo de mim.
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Transmissão da tragédia da Kiss pela CNN.
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Outro tema que apareceu bastante na mídia, envolvendo o país, foi o favoritismo do cardeal brasileiro, entre os top 3 possíveis papas para a CNN. Ainda em função da escolha do novo papa, falaram muito que o primeiro grande compromisso internacional do novo papa - sul-americano, destacavam sempre - seria a Jornada Mundial da Juventude, no Rio. Nada muito "opinativo" sobre o país.
Diria que foram essas as ocasiões em que vi/ouvi falarem do Brasil, e assisto relativamente bastante canais de jornalismo.
Nos seriados, a gente sabe que láaa de vez em quando fazem alguuuma referência. Uma que me lembro de ter visto esses dias foi em "Sex and City", em que o Mr Big se muda para Paris a trabalho e a Carry fala "Agora Paris, depois Brasil...". Achei uma boa inserção, tipo no nível de Paris, então tá bom... Ou será que era em outro tom?
Americanos e a relação com os estrangeiros
Achei estranhíssimo o desinteresse dos americanos pelos estrangeiros. Tudo bem que aqui em College, e em muitas cidades dos EUA, existe gente do mundo todo, e que para eles isso não é novidade. Mas, de qualquer forma, eles não perguntam de onde você é - mesmo notando o sotaque - e, quando ficam sabendo, também não perguntam nada do país. Eu acho muito estranho porque quando recebemos um estrangeiro, aproveitamos para conversar sobre a cultura do seu país. Já quando se conhece outro estrangeiro por essas bandas, a reação é muito mais "normal", e eles ficam curiosos para saber mais sobre o Brasil - e saem falando nomes de jogadores de futebol, coisas que os americanos não sabem.
Conversando com um colega americano que já morou fora, ele diz que não é falsa a visão que as pessoas de outros países têm dos EUA: só olham para o seu umbigo. Inclusive, uma colega daqui, doutoranda, quando contei - por livre e espontânea vontade, porque ninguém perguntou - que há muitas universidades gratuitas no Brasil, ela esboçou algo como "vou pra lá, vou aprender a falar espanhol". God! Um país do tamanho do Brasil, no mesmo continente, uma doutoranda em Comunicação. Enfim!
Também achei impressionante que eles (ainda os colegas doutorandos - que espero que não cheguem até o blog e não copiem o conteúdo no Google tradutor) não se dão conta que agora é outra estação em um país do hemisfério sul, e demoraram a entender porque o ano letivo funciona de modo bem diferente (férias escolares de dezembro a fevereiro). Uma criança brasileira sabe dessas coisas em relação a outros países.
Em termos de tradições, culinária e afins, a única coisa que se destaca são as churrascarias/ casas de carne brasileiras. Essa sim parece ser uma marca dos brasileiros, o churrasco, com várias "Brazilian Steakhouse" (nenhuma em College). É, estaria mais para presença da república federativa do Rio Grande do Sul, do que Brasil, mas ok.
Brasileiros em College Station
Sempre falo que tem bastante brasileiro aqui. E tem! Que eu já tenha conhecido são uns 30, mas, claro, tem mais, que não conheço ou que não "interagem" com os outros brasileiros. E a rotatividade é muito grande, tem sempre gente chegando ou indo embora. A Brazilian Students Association da Tamu existe desde 1982. Eu me associei em um "reunião" da associação logo que cheguei. Não sei bem porquê, mas era barato (8 dólares eu acho). Ela ajuda a reunir os brasileiros, mas hoje, com o Facebook, não é a ferramenta principal.
Tem várias gaúchas, especialmente um grupo de Pelotas. Não
conheço ninguém mais da Comunicação e os outros brasileiros acham até estranho uma jornalista. A área das Sociais e Humanas não é o forte dos
brasileiros aqui. Fora eu, tem um casal na Antropologia, e é isso. Tem
bastante gente nas áreas de Agronomia, Biologia, Veterinária, Alimentos e
Engenharia de Petróleo - basicamente as áreas mais fortes da universidade.
A Capes tem acordo com a A&M para enviar
alunos pelo Ciência sem Fronteiras, e diria que a maior parte dos
brasileiros são graduandos passando um ano aqui pelo CsF. Também existem
doutorandos em sanduíche, como eu, por quatro, seis ou doze meses, e
também brasileiros fazendo a graduação, o mestrado ou doutorado
completos aqui.
Já ouvi brasileiros dizendo que no início evitavam ficar com outros brasileiros, porque, afinal, se é para ficar com brasileiros, não precisa sair do Brasil. Também já ouvi isso - que irão fugir de brasileiros - de pessoas que estão para viajar para outro país. Acho que realmente não é muito produtivo grudar com brasileiros. Sei de pessoas aqui assim e de fato não conseguiram desenvolver o inglês. Mas, por outro lado, é muito bom ter os brasileiros aqui para conviver. Os americanos são mais reservados (apesar de não serem frios), são diferentes. E, afinal, nem tudo é só absorver a cultura americana. As pessoas sentem falta de suas famílias e amigos e ter gente mais parecida com a gente e na mesma situação é muito importante.
Como comentei no último post, semana passada fomos patinar. Combinamos pelo grupo dos brasileiros no Facebook e fomos lá pagar mico. Não daria para dividir com os americanos a animação de patinar no gelo, já que para eles é uma coisa normal (eles inclusive têm os seus patins, não precisam alugar), e para nós, embora exista uma pista que outra, geralmente em shoppings, não é nada normal.
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Brasileiros em CS: samba e patins nos pés |
Desabafando antes de concluir
A maior parte dos brasileiros que estão aqui com os quais eu converso não chega a ser deslumbrada pelos EUA, mas quase. Acham as coisas muito melhores aqui do que no Brasil. Não quero me aprofundar nisso, claro que tem coisas melhores, aqui é um país de Primeiro Mundo, mas nem tudo. Os americanos também teriam coisas pra aprender com os brasileiros.
Eu não sou uma iludida, que não conhece ou não quer ver a realidade do Brasil. Claro que tem muita coisa ruim, mas tem tanta coisa boa, e não falo das pessoas, que são amistosas e coisa e tal, que geralmente é só o que é ressaltado de bom no Brasil; falo do país como um todo. E não acho que "existem coisas boas no Brasil" porque estou nostálgica. E penso sim que o país tem futuro.