A "estranha" e simpática Austin

A viagem de Dallas a Austin levou 3h30 de ônibus, e o único "pormenor" foi a bagagem. Nossas mochilas estavam muito pesadas e as poucas quadras que caminhamos do hotel em Dallas ao metrô, do metrô à rodoviária, e depois da rodoviária em Austin à parada de ônibus, e da parada de ônibus ao hotel, foram bem cansativas. Na cidade seguinte, San Antonio, iríamos desistir da "vida de mochileiros" e compraríamos uma mala de rodinhas (continuamos como mochileiros, mas a maior parte do peso saiu das costas... e da outra mala menor, sem rodinhas, cheia de livros). Carregando uma "mudança", mesmo que só de seis meses, difícil ser mochileiro.

Austin - 1º e 2 de julho (segunda e terça-feira)

Li algumas coisas que dizem que, apesar de capital do estado, Austin não representa o Texas. A cidade se autodenomina "estranha", e mantém a campanha "Keep Austin weird" (Mantenha Austin estranha). É, a capital é diferente do resto do estado realmente - San Antonio também é diferente, provavelmente por ser uma cidade muito mexicana.

Nosso primeiro contato com as pessoas na cidade deixou isso claro. Fomos direto conhecer o capitólio, sede da Câmara de Representantes e do Senado. Na praça do capitólio, estava ocorrendo um protesto feminista (!). Pelo que entendemos, era em defesa do direito da mulher de abortar, provavelmente impulsionado pelos acontecimentos de poucos dias antes.

Praça do capitólia recebia protesto feminista.

O Senado do Texas queria votar um projeto  (republicano) que limitaria os direitos de aborto. Já sabiam que ele sairia vencedor na votação, já que a maioria era republicana e favorável. A senadora Wendy Davis, contrária ao projeto, fez uso das regras da casa para impedir a votação. As regras dizem que enquanto um legislador estiver discursando, não é possível haver votação. Para que a regra valha, não se pode parar de discursar, fugir do tema na fala, ir ao banheiro, tomar água, sentar, se encostar na bancada, nada! É possível cometer algum desses "equívocos" duas vezes para não perder o direito à fala. Pois a Wendy cometeu duas dessas falhas, mas não a terceira, e ficou 13 horas discursando! O projeto só poderia ser votado até a meia-noite daquele dia, se não sairia de pauta. E foi o que aconteceu!

Você pode não ser favorável ao direito de a mulher abortar (favorável ao aborto propriamente ninguém é), mas ninguém pode negar que a senadora foi uma guerreira e defendeu sua convicção política e de muitas mulheres. Um detalhe que repercutiu "na época" (mês passado) foram os calçados usados pela Wendy: tênis coloridos. Coerente, para ficar tantas horas em pé. Por isso reproduzi o estilo... (Leia aqui ou aqui sobre o fato).

Senadora Wendy Davis. Detalhe do tênis (foto internet)

Me sentindo a Wendy.

Mas algumas coisas indicam que Austin é sim no Texas. Como o capítólio, que é maior do que o nacional, em Washington. (Everything is bigger in Texas - Tudo é maior no Texas é o lema).

Capitólio

Capitólio

Vale destacar que o Texas foi independente por 10 anos, de 1836 a 1846. Lembrando que também tivemos a República Rio-Grandense de 1836 a 1845...

Capitólio

Dali, fomos conhecer o rio Colorado, que corta a cidade, pensando em talvez alugar uma bicicleta para dar uma volta pela orla. Acabamos decidindo fazer caiaque. Na Florida (em Marathon), como contei aqui, o hotel onde a gente estava disponibilizava caiaques para os hóspedes, mas como estava muito ventoso, não conseguimos aproveitar. Ficamos com vontade de experimentar em outra ocasião. E foi em Austin. Pagamos US$ 15 para uma hora. É bem fácil, agradável, e tínhamos uma boa vista da cidade.
 

Caiaque no rio Colorado

Ficamos pensando que poderia ser oferecido caiaque no Guaíba, em Poa...
 
Depois, permanecemos pela orla do rio Colorado para ver o pôr-do-sol e aguardar a saída dos morcegos. Uma das principais atrações da cidade é assistir à debandada  dos morcegos que saem debaixo da ponte da Congress Avenue. São muitos, falam em mais de um milhão, que vivem ali entre março e setembro e saem depois do pôr-do-sol para se alimentar. Combina com o título de cidade estranha. 

Pôr-do-sol e ponte da Congress Av.

 Terminamos o dia na 6th Street, a rua dos bares. E não são poucos, quase todos com música ao vivo, para fazer juz ao título de capital americana da música ao vivo. 

No dia seguinte, fomos visitar a University of Texas at Austin, grande rival da minha ex- Texas A&M University, especialmente no futebol americano. Como todos os espaços públicos da cidade, o campus é "tabacco-free", sendo, portanto, proibido fumar. Da mesma forma que a A&M, é cheia de esquilos, e consegui tirar as fotos de pertinho que não conseguia em College.

Esquilinhos que eu adoro...

Olha para onde o ônibus da universidade leva.

Descobri na visita à UT que a exploração de petróleo no Texas beneficiou muito tanto a University of Texas quanto a Texas A&M, com a criação de um fundo permanente de lucros destinado a elas. Para registro, o petróleo foi descoberto no Texas em 1901.

Cavalo-de-pau utilizado em exploração de petróleo na década de 1920.

De tarde, fomos à piscina natural Barton Springs. Há uma área de acesso livre, que não é muito grande (e com cachorro na água), e outra em que se paga US$ 3 para entrar. O lugar é bonito e a água, limpa, mas muuuito gelada, não teve jeito de eu conseguir entrar. Deu para curtir um sol. Não fiquei muito à vontade com meu biquininho brasileiro. As americanas, como se sabe, usam biquínis super grandes.

Barton Springs Pool

Barton Springs Pool e sua gélida água.

O sistema de transporte em Austin é muito bom e diria que civilizado. Os motoristas são muito educados - exemplo: esperam o passageiro sentar para partir. A passagem é US$ 1 e o day pass só US$2 - e dura 24 horas em relação à hora da compra, e não só até o final do dia. Além disso, possuem mapas detalhados sobre os trajetos, disponíveis nos ônibus gratuitamente.
  Ao que nos pareceu, Austin é uma boa cidade para se viver. Contei aqui que achava que iria para Austin até pouco tempo antes de ir para o sanduíche? Contei sim (aqui). Pois, confundi a Texas A&M University com a University of Texas. Minhas pesquisas sobre a minha ex-futura-cidade davam conta de que Austin tem uma ótima qualidade de vida, é bastante arborizada, e, como disse acima, é a capital da música ao vivo... Também descobri naquele momento a "inclinação à esquerda" da capital na política, afastando-a do resto do estado, o que achei bacana... 

No dia seguinte, rumo a San Antonio. A partida para a cidade já rendeu uma história, que conto no próximo post ;)